JÚLIO RESENDE-CINDERELLA CYBORG (CD)

Não gosto de guerras. Cyborg é para mim uma reunião positiva entre homem e máquina. Por exemplo, as pessoas que vivem com um pacemaker dentro do seu corpo e que as ajuda a manter o coração em funcionamento em casos de urgência, elas são o Cyborg perfeito.
Gosto de máquinas que mantêm o coração humano em funcionamento! Gosto de máquinas de paz. É um termo que escuto pouco: Máquinas de paz. Ouvem-se mais outros termos.
“Cinderella Cyborg” é o nome deste disco. Um disco feito de canções. É também uma aventura pelo lado cyborguiano da Música. E serviu-me para tentar estabelecer um diálogo possível entre o humano e o inumano, entre a carne e os chips, entre o acústico do piano e do contrabaixo e da bateria, e o electrónico do computador e dos Pads. Entre a minha liberdade enquanto pianista e a rigidez da linguagem dos computadores. Entre a extrema imperfeição do humano e a perfeição impossível da máquina.
Mas o mundo das máquinas tem tantos sons bonitos, inéditos, inesperados, que é impossível não nos apaixonarmos por eles e pelas suas possibilidades artísticas. E gosto de juntar sons que não existem no mundo natural com sons que têm já vários séculos de história no mundo natural, como o som do piano. E do contrabaixo.
Tem sido um caminho difícil e belo que há já uma década vou tentado combinar em vários projetos. Este é o primeiro disco que dedico totalmente a essa causa. Estou cansado de nos ouvir dizer mal das máquinas. Cuidemos delas então. Foram criadas por nós. Por isso somos os responsáveis por tratar e cuidar das mesmas. E não tenhamos medo da sua perfeição. Quantas vezes não se avariou já o nosso computador? As suficientes para sabermos que a perfeição é uma miragem. E não devemos ter medo das miragens. Talvez o verdadeiro oásis seja o do olho biónico para quem não vê, das exímias pernas mecânicas para quem não anda, do pacemaker para quem tem o coração frágil. Das redes sociais para quem é demasiado tímido ou agressivo mas precisa de se relacionar com os seus semelhantes tanto quanto outra pessoa qualquer. As máquinas suprimem algumas das nossas necessidades. Mas as necessidades dos humanos serão sempre superiores às de qualquer máquina. E parece-me que as máquinas são apenas resultado do volume dos nossos desejos. Desejemos então! É bom desejar.
"Cinderella Cyborg" é uma fantasia de união, carne e chips, que mesmo quando a vida nos parece madrasta há uma história de amor que pode surgir em qualquer lugar.

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