Pedro Mestre e Chico Lobo encontraram-se pela primeira vez em Portugal, há sete anos. Conheceram-se durante o Encontro de Culturas de Serpa, um evento que reúne anualmente artistas de diversos países. Esse
acontecimento, que juntou os tocadores da viola campaniça e da viola caipira alentejana, iniciou uma relação especial que marcaria a vida dos dois músicos e o percurso dos seus instrumentos. Em resultado, gravaram o seu primeiro trabalho discográfico, Encontro de Violas – Viola Campaniça e Viola Caipira Pedro Mestre e Chico Lobo, editado em 2007 no Brasil e em Portugal.
O ponto de partida desta parceria inédita foi a constatação, por parte dos tocadores, da existência de uma estreita ligação entre as suas violas. Os sinais de familiaridade entre os instrumentos revelaram-se logo no primeiro encontro, em 2006, mas o aprofundamento e longevidade desta relação só foi possível porque o interesse dos tocadores não se ficou pelos aspetos musicais, tendo-se alargado nos anos seguintes aos respetivos contextos socioculturais. Por detrás do espetáculo que as violas proporcionam estão os povos que as utilizam quotidianamente nas folias de Reis, nas serestas e nas festas do Divino, em Minas Gerais, ou nos descantes e nos “balhos”, no Alentejo. A parceria vai, pois, muito para lá do palco e o que o Encontro de Violas tem de mais característico e surpreendente não é a beleza dos espetáculos que o enorme talento dos intérpretes proporciona, é a capacidade de, através do dedilhar dessas cordas, se colocarem as duas culturas em verdadeiro diálogo. Este entendimento, baseado na amizade entre os músicos e no respeito pela matriz da tradição, foi sendo sedimentado pelos contactos constantes que se mantiveram regularmente nesta já longa e persistente caminhada.
Pedro Mestre e Chico Lobo abriram as portas de suas casas um ao outro, permitindo ao parceiro de palco o contacto direto com as fontes que transmitem a tradição: a família e a comunidade. É aí, nos despiques das tabernas e nos serões à lareira da aldeia de Sete, de Pedro Mestre, no café da manhã com pão de queijo caseiro, nas serestas e nas folias de São João d’El Rei, de Chico Lobo, que os espetáculos nascem. Só assim podiam ter sido compostas modas alentejanas por Chico Lobo, só assim Pedro Mestre podia tornar tão caipira sua viola tradicional alentejana.
Neste sentido, acompanham esta gravação do espetáculo do festival Cone(cs)ons, no Rio de Janeiro, imagens que contextualizam as violas registadas em Minas Gerais e no Alentejo.
Este não é, certamente, seu último trabalho, outros hão de vir e serão, também, importantes marcos no riquíssimo movimento de resgate e dignificação das culturas regionais, fundamental na resistência à imposição de uma cultura hegemónica ditada pela globalização.